Conceitos


Prezado Educador

A organização de ambientes favoráveis para a aprendizagem das crianças está relacionada com o compromisso do professor de propor vivências nas diferentes linguagens e de permitir escolhas, trocas entre os pares, o exercício da autonomia, a construção de cultura e o acesso aos variados bens culturais, como jogos, brincadeiras e leituras.
As situações de atividades diversificadas são muito favorecedoras para que as crianças vivenciem na ação todos estes aspectos:

Autonomia:
Autonomia, ao contrário do que muitos pensam, não significa permitir que a pessoa faça o que achar melhor, sem considerar o que é bom para todos. O conceito com o qual estamos trabalhando está fortemente relacionado à perspectiva piagetiana, que compreende que a pessoa moralmente autônoma “é aquela que, nos seus juízos, baseia-se nos princípios de igualdade, da eqüidade, da reciprocidade e do respeito mútuo”. A Educação Infantil tem como um dos eixos o desenvolvimento da autonomia, que se inicia neste momento da vida da criança, mas ainda exige um processo pela frente marcado por experiências que possibilitem o conhecimento das próprias necessidades, preferências e desejos relacionados à construção de saberes e relacionamentos interpessoais.
A modalidade cantos de atividades diversificadas é muito favorecedora para colocar em ação estes aspectos, mas muitas vezes ouvimos relatos que avaliam esta proposta como sinônimo de bagunça, indisciplina. No entanto, como podemos garantir escolhas e interação entre as crianças, tendo o silêncio, a imobilidade, a obediência e o individualismo como pressupostos? Tudo isso é contraditório com as discussões que tivemos até o momento no Programa Formar em Rede.
Sabemos dos desafios. No entanto, são as pessoas adultas, em especial os professores, que poderão criar espaços para compartilhar ideias e formas de ação em comum, a fim de orientar as crianças diante dos contextos coletivos.
Pensar a Educação Infantil é considerar que a criança não é um ser desvinculado das práticas sociais que vivencia. Suas formas de agir, pensar, sentir não resultam de fatores inatos, mas são construídas conforme ela participa em seu meio sócio-cultural de atividades onde interage com diferentes parceiros.

Interação:
Discutimos em outros momentos, reuniões ou contribuições de pautas das escolas, que o aprendizado é uma tarefa de construção do aprendiz elaborado em interação com os outros. As crianças não são copos vazios que os educadores devem encher; desde o nascimento elas aprendem observando e reconstruindo o mundo que as rodeia. Seja qual for a idade e o momento de seu desenvolvimento, elas têm ideias, conhecimentos e representações. As trocas entre as crianças e entre as crianças e adultos, a respeito dos objetos de conhecimento, representam um papel importante na construção do saber. Em função disso, os profissionais das instituições de Educação Infantil devem buscar os meios para suscitar a expressão e a confrontação de pontos de vista entre as crianças e ao mesmo tempo, devem aprender a observar as condutas das crianças e interpretá-las.
As instituições de Educação Infantil devem garantir às crianças o direito de viver sua infância e se desenvolver em situações agradáveis, estimulantes, e assegurar que todas participem de experiências significativas que lhes possibilitem apropriar-se de diferentes linguagens e saberes que circulam em nossa sociedade.



“Educar a criança é “criar condições para ela apropriar-se de formas de agir e de significações presentes em seu meio social, formas estas que a levam a constituir-se como um sujeito histórico. Ao fazê-lo, a criança desenvolve sua afetividade, motricidade, imaginação, raciocínio e linguagem, formando um auto-conceito positivo em relação a si mesma.” (Tempos e espaços para a infância e suas linguagens nos CEIs, Creches e EMEIs da cidade de São Paulo, São Paulo, SME, 2006, pág. 19).

O aprendizado pode ser entendido como o processo de modificação do modo de agir, sentir e pensar de cada pessoa que não pode ser atribuído à maturação orgânica, mas à sua experiência. Ele pode ser provocado em três situações: por colaboração com diferentes parceiros na realização de determinadas tarefas, por imitação ou por transmissão social. Aprender é uma tarefa que aciona um conjunto de fatores que orientam as ações do aprendiz e as interações que ele estabelece com diferentes parceiros: adultos e crianças. A forma como o professor desempenha seu papel é particularmente importante na experiência de aprendizagem das crianças que com freqüência o imitam na interação com companheiros. As relações que o professor estabelece com as crianças são fortalecidas pela sua observação interessada e freqüente das interações que elas estabelecem com os companheiros. Por intermédio dela, ele pode investigar os objetos e as atividades por elas mais apreciados, a ocorrência de episódios de cooperação ou de disputa entre elas e, pela escuta atenta de suas falas, conhecer as significações que nelas estão sendo trabalhadas. O professor, em sua relação com as crianças, cria oportunidades para elas aprenderem a conviver em grupos, o que vai lhes requerer aprender regras que disciplinem (orientem) as ações infantis. Ele pode organizar um ambiente tranqüilo, compreender a movimentação das crianças, colocar-lhes limites e trabalhar com elas regras orientadoras da convivência, justificar proibições, ajudar as crianças a fazer acordos e lembrá-las desses acordos sempre que necessário.

Movimento:
No discurso de professores, muitas vezes observamos que a imobilidade é pré- requisito para as aprendizagens e para manutenção da atenção, por isso a preocupação exagerada em garanti-la.
A perspectiva que nos amparamos entende que o movimento influencia o comportamento habitual dos sujeitos, bem como seus temperamentos. Segundo Henri Wallon (teórico que investigou a evolução da pessoa a partir da integração da afetividade, inteligência e do ato motor), as regulações das atividades musculares variam de pessoa para pessoa e é na passagem da ação para o pensamento que este último passa a ser projetado pelos movimentos. Dessa maneira podemos analisar a importância dos movimentos para o desenvolvimento da capacidade de expressar a inteligência.
Diante da proposta de cantos de atividades diversificadas, as crianças podem expressar seus pensamentos por meio de seus gestos e movimentos? Os espaços organizados para a vivência dessa situação permitem deslocamentos e a ação independente por parte das crianças?
O espaço do movimento na perspectiva de cantos de atividades diversificadas que enfatizamos permite a circulação entre as propostas, as conversas resultantes das interações e a expressão de pensamentos. Claro que para isso é necessário a presença de um adulto tanto para enriquecer as situações vividas, como para mediar os conflitos que existem em qualquer contexto educativo e que também são possibilidades de aprendizagem para as crianças.

Débora Neto e Mêire Inhael
Programa Formar em Rede
Instituto Avisa Lá
Formadoras Locais
Cubatão - SP