Como trabalhar textos informativos na creche
Ensine os pequenos a pesquisar utilizando gêneros informativos e aplicando os procedimentos de ler para saber mais sobre determinado assunto
Ana Rita Martins (novaescola@atleitor.com.br)
PRIMEIRO CONTATO Na CEI Aloísio de Menezes Greenhalgh, a turma folheia os livros mesmo sem saber ler
Quando chega a hora de colocar os pequenos para pesquisar, a primeira preocupação que vem à mente é com qual tema trabalhar. Nesse momento, priorize aquilo que encanta as crianças, como os animais, o sistema solar e os alimentos. Mas não gaste tanto tempo nessa etapa. Embora a escolha seja uma parte importante do processo, o assunto a ser investigado, independentemente de qual seja, deve estar sempre a serviço de um propósito: fazer as crianças colocarem em ação procedimentos específicos da leitura que tem como objetivo aprender mais sobre determinado assunot. Isso inclui selecionar fontes, fazer a leitura em busca de dados, associar as informações das imagens ao que está no texto, registrar e apresentar o que foi encontrado - ainda que, por serem pequenos, tenham um grande apoio seu durante todo o percurso.
Uma excelente forma de levar a turma a vivenciar esses passos é trabalhar com os textos informativos. Diretos, com informações científicas ou dados que expliquem ou desenvolvam um tema, eles dão às crianças a oportunidade de aprender sobre qualquer assunto pelo qual se interessam (leia a sequência didática). Além de serem a base para a pesquisa, os textos informativos ainda trazem para a turma da creche outro propósito social: ler para saber mais, o que é bem diferente das atividades com os contos de fada ou as fábulas, mais corriqueiras na rotina.
Material de qualidade e uma lista de questões a responder
ETAPAS DA PESQUISA
A professora apresenta os materiais, lê para a turma e registra as informações aprendidas.
O primeiro passo é fazer uma pré-seleção do acervo de pesquisa, verificando se há um material de qualidade - variado e com informações corretas - disponível. Em seguida, planeje como vai utilizá-lo, pensando inclusive em quais intervenções serão essenciais. Livros e revistas com fotos, desenhos e ilustrações são muito bem-vindos, já que são usados pelas crianças que ainda não leem para encontrar as informações.
De acordo com Maria Grembecki, formadora de professores da Comunidade Educativa Cedac, em São Paulo, o material utilizado nas pesquisas dos pequenos pode ser, inclusive, destinado a adultos, como revistas e livros científicos. "O que não se deve fazer é trabalhar apenas com aqueles voltados para o público infantil. Na maioria das vezes, eles recorrem a ilustrações estilizadas e simplificam demais a linguagem", afirma. Fique atento para saber se o material reúne o básico sobre o tema, mas sem simplificar a informação de modo que ela fique errada ou caricatural. Essa precaução inclui não utilizar obras ficcionais como um complemento do texto informativo. "Se a turma vai pesquisar sobre os leões ou florestas, por exemplo, não ajuda passar um filme como O Rei Leão. Além de não ter informações úteis à pesquisa, há ainda a humanização do animal, o que não é adequado a esse tipo de trabalho", conta Ana Paula Mateus, do Centro de Formação da Escola da Vila, na capital paulista.
Reunido o material, você pode exibir trechos de documentários em vídeos e DVDs ou ler trechos de textos instigantes e curiosos. Por apresentarem o assunto, servem de subsídios para que os pequenos pensem nas questões que querem responder durante a pesquisa. Esse é um importante ponto de partida, já que é muito difícil construir dúvidas sobre um tema que não seja conhecido.
Durante todo o processo, incentive a meninada a prestar atenção nos diversos elementos que fazem parte do texto informativo. Luzia das Graças Silveira Corrêa, professora da CEI Aloísio de Menezes Greenhalgh, na capital paulista, costuma mostrar para a turma sumário, índice, título, subtítulo e número das páginas de cada livro ou enciclopédia usados. "Na hora da leitura, falo sobre como são organizadas as informações e de que forma isso é útil para encontrar as respostas que se desejam", ela conta.
Uma apresentação como essa deve ser acompanhada pela leitura de trechos curtos dos textos e das legendas, sempre de olho no que pode solucionar questões iniciais. E é normal: nem tudo vai ser compreendido pela turma. Nesse caso, a releitura de trechos ajuda, pois a criança pode perceber o significado das palavras com base no contexto.
ETAPAS DA PESQUISA
A professora apresenta os materiais, lê para a turma e registra as informações aprendidas.
Na sala de Luzia, cada nova informação apontada pelos pequenos é registrada por ela. "Não basta apenas escrever. Faço questão de ressaltar o propósito do que estou fazendo para que todos também entendam a importância da etapa. Digo: 'Vamos escrever para não esquecer nada?' Assim, o procedimento ganha sentido", afirma a educadora. Variar o formato das anotações, com tabelas, listas, fichas técnicas e pequenos textos, é essencial para que todos percebam as diversas maneiras de organização dos dados encontrados.
Vale lembrar que, depois de escrever, é importante reler as notas feitas. Também ajuda voltar às perguntas iniciais e ver as que não foram respondidas e podem ser separadas para uma próxima pesquisa. As crianças devem sempre recuperar o que descobriram para ter ideia da pesquisa como um todo, depois de finalizada - e não apenas das informações esparsas e colhidas aos poucos.
O último procedimento é apresentar os dados coletados e, para isso, pode-se fazer uma roda de conversa coletiva, em que o grupo relembre o que viu e fale do que aprendeu com a pesquisa. Nessa hora, você pode mostrar os registros como apoio. Há também a possibilidade de, juntamente com a garotada, elaborar um produto final, como um álbum com colagens das imagens usadas ou fichas técnicas com as perguntas e respostas, que podem servir para organizar o resultado de todo o processo.
Na hora de avaliar, é importante levar em conta o conteúdo aprendido, mas, sobretudo, o desenvolvimento de comportamentos leitores de textos informativos. Fique atento à postura da criança. Ela pede que trechos sejam lidos novamente? Faz perguntas sobre o que ouviu? Antecipa informações por meio das imagens? Consegue reconhecer um texto informativo? A ideia é analisar o caminho de cada criança em relação à apropriação desses procedimentos.
Reportagem sugerida por 3 leitoras: Marilene Soares de Souza Silva, Bodocó, PE, Maria Solange Costa, São Paulo, SP, e Patricia Franco Marins de Oliveira, São Paulo, SP
BIBLIOGRAFIA
Além da Alfabetização, Ana Teberosky, 296 págs., Ed. Ática, tel. 0800-11-5152, 47, 90 reais
Além da Alfabetização, Ana Teberosky, 296 págs., Ed. Ática, tel. 0800-11-5152, 47, 90 reais