Aspectos práticos e teóricos na formação do educador


Profª Maria Noemi de Araújo*
Aspectos Práticos e Teóricos da
Formaço do Educador de Creche/Pré-Escola
...O quebra-cabeça é um jogo que contém peças de diferentes tamanhos e formas.
Cada uma delas tem uma função, uma razão de existir. É fundamental para a
finalização do jogo que cada qual seja colocada no seu lugar. O jogo pode se tornar
concomitantemente difícil e prazeroso, envolve regras, limites, tempo, confronto, ação,
reflexão, desejo de jogar e prazer de vivenciar, experimentar, conhecer novas formas de
se montar o quebra-cabeça.
Se tomarmos o modelo do quebra-cabeça para pensar a formação do educador,
poderemos afirmar que nesse processo tal quebra-cabeça jamais se completa, mas
implica um continuo movimento de ensinar-aprendendo e aprender-ensinando.
Por formaço, estamos entendendo o processo de construço e promoço do
conhecimento enquanto um sistema, retido pelo educador. E por educador, alguém
que organiza, constrói e transmite tais conhecimentos, atuando junto com a criança
no prazer da descoberta, cultivando O espírito da pesquisa e o desejo de conhecer o
mundo. Conhecer é entrar em contato com o objeto do conhecimento e não apenas a
obtenção de informações e o domínio de técnicas a respeito deste. Assim, educar é
colocar em contato com e não apenas falar sobre.
Ao educador não cabe dizer "faça
como eu", mas "faça comigo", estimulando o diálogo do educando com o seu próprio
pensamento e com sua própria cultura (M. CHAUÍ - 1980, p. 39). Vale dizer que este é
o pressuposto básico do ato de educar e que será através dele que o presente trabalho
se desenvolverá
* Pedagoga da Equipe da Creche da Secretaria do Menor e Profª da Universidade
Paulista.
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A construço do conhecimento não é algo que acontece de maneira mágica e
mecânica. É um processo, um acontecer-acontecendo, uma interaço; interaço
educador-criança, educada-educador, educador-mundo Trata-se justamente de
encontros de saberes como ponto de partida na perspectiva da construção de uma
pedagogia que, ao ser construída pelo educador, possa ser (re)construída pelo
educando.
Tal modo de produço pedagógica implica, entre outras coisas, a leitura dos interesses
do grupo, na proposta de novos desafios, no conhecimento do que é a criança, no
construir-se educador cotidianamente. Isto nos remete para a educação enquanto
uma pluralidade de práticas dinâmicas e ações coletivas, o que permite tanto ao
educador como ao educando conhecerem os vários aspectos de suas realidades, bem
como de outras, e a se reconhecerem em suas próprias produçes.
Ora, só é possível ocorrer tudo isso no tecer das maçes sociais, o que inclui
montagens teóricas procedentes de todas as áreas do conhecimento humano e não
apenas da Pedagogia. Assim, a Sociologia, a Filosofia, a Antropologia, a Física, a
Química, as Artes, apenas para citar algumas, contribuem para o enriquecimento da
experiência prática e reflexiva realizada no
nossa
dia-a-dia com a afiança. De outra
parte, sabemos que essa criança possui um contexto familiar e comunitário que inclui
valores sociais e culturais. Tudo isso deve ser levado em conta.
A partir dessas considerações, é que a equipe de Creche/Pré-Escola da Secretaria do
Menor resolveu ocupar esse espaço, investindo nesse desafio que se propôs,
estruturando e implantando um programa que concebe a creche como um espaço
educativo e sobre o qual me proponho, neste momento, a refletir.
PROPOSTA DE CRECHE COMO UM ESPAÇO EDUCATIVO
A necessidade de se formar o educador de creche está ligada à proposta educativa do
trabalho desenvolvido na Creche/Pré-Escola, que concebe a criança como um sujeito
de sua ação, um cidadão que tem direito ao saber e a aprender outras coisas que o
adulto já sabe.
A intenção de propor e realizar um trabalho educativo na Creche/Pré-Escola advém do
fato de que ali existe um espaço para a intervenção educativa/pedagógica que,
historicamente, assumiu um cunho assistencialista. Contrariamente, o objetivo deste
Programa é garantir o processo de construção de uma prática comprometida com a
criança, levando em consideração os interesses e necessidades de cada faixa etária.
Este processo, a meu ver, não compactua com a educação tradicional, onde esta
impõe ao sujeito obrigaçes, limitações, proibiçes e disciplina o seu corpo à sujeiço,
com base na noço de docilidade. "É 'dócil' um corpo que pode ser submetido, que
pode ser utilizado, que pode ser transformado e aperfeiçoado" (M. FOUCAULT - 1977,
p. 126).
O Programa Creche/Pré-Escola da Secretaria do Menor do Estado de São Paulo está
voltado para o atendimento de crianças de zero a seis anos, no sentido de lhes oferecer
as melhores condições para que possam aprender a partir das relações que
estabelecem com os educadores, com os objetos e com o espaço físico da
Creche/Pré-Escola.
Creio ser de interesse frisar aqui que essa proposta considera que as crianças iniciam
seus processos de aprendizagem desde seu primeiro contato com o mundo e, portanto,
a educação formal é entendida como uma variação educativa e não enquanto um
ponto de partida.
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Os vários segmentos profissionais da Creche/Pré-Escola devem oferecer às crianças
um espaço de aprendizagem onde elas possam se movimentar, manipular, cheirar e
visualizar os objetos; possam explorar o ambiente, interagir com as outras crianças e
com os adultos; possam também ficar sozinhas e brincar.
Aqui é importante sublinhar que o brincar não tem s6 uma função lúdica, mas
também educativa Brincando, as crianças podem vivenciar experiências, registrar
várias informações (como, por exemplo, sons, cores, formas etc.), experimentar
sensaçes e sentimentos (A. V. RODRIGUES - 1988), construindo desse modo suas
representações e apropriando-se da realidade. Ao construírem representações, as
crianças começam a registrar, pensar e fazer uma leitura do mundo (M. FREIRE
-1982). Intencionalmente, a proposta orienta o trabalho com as afianças nessa
direço.
Parte-se do principio de que as afianças, às vezes, precisam ser estimuladas tanto
para se expressarem - o que implica auxiliá-las no desenvolvimento de suas
linguagens oral, corporal, gráfica etc. - como para interagirem com os objetos que as
rodeiam. Não menos importante é fazê-las notar cromo esses objetos e essas
linguagens vão-se transformando continuamente com o trabalho do homem e para o
homem.
Talvez seja interessante exemplificar aqui formas usadas pelos educadores com esse
objetivo:
o estimulação de narrativas e leituras de livros de lendas, contos de fada, textos etc.; a
vivência de experiências com a escrita que permeia o cotidiano das crianças (placas,
bilhetes, logotipos, cartas etc.); a facilitação no manuseio de revistas, jornais, livros
etc.; o utilização de tintas e materiais do gênero; o realização de jogos e experiências
cientificas; o contato com a música, a pintura etc.
Tudo isso facilita às crianças, num outro momento, o entendimento de conceitos de
Geografia, Ciências, Matemática, Língua Portuguesa. Comunicaço e Expressão e
Artes (E. S. LIMA 1988).
Sem dúvida, para que esta creche seja, efetivamente, um espaço educativo, é
imprescindível que se defina uma proposta de trabalho e que se possa contar com
alguns recursos. Estes são de ordem física, material, financeira e humana. Falarei,
então, de alguns aspectos dos recursos humanos considerados fundamentais para
que tal proposta se sustente, apesar de sabermos que eles não se mantém
isoladamente.
RECURSOS HUMANOS/FORMAÇÃO DO EDUCADOR
"O trabalho é dif ícil, mas é gostoso. As
aprendem e
aprendo
crianças são curiosas,
eu
muito com elas". (JOSEFA V. DOS SANTOS - Educadora da limpeza -Creche/Pré-Escola
Carrão)
A nossa experiência na formaço do educador de creche demanda esforço, tolerância e gosto
pelo trabalho, pois nos deparamos com situaçes, hábitos, modos de vida diferentes. Por
exemplo, o tratamento do "piolho", que a principio pode nos parecer uma coisa simples, não o é
quando temos que enfrentar o fato. A forma de se lidar com esta situaço, tão corriqueira nas
creches, esbarra em valores sociais e culturais, hábitos de higiene e trocas de afetos. O que
quero destacar aqui é que, neste momento, o "piolho" foge do âmbito da área de saúde já que
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tem implicações pedagógicas, culturais e sociais. Notem-se as polêmicas e conflitos
para resoluço de um problema dessa ordem. E não pretendemos que seja da noite
para o dia que as pessoas ali envolvidas encontrem soluçes adequadas para cada
situação dessa É preciso tempo e, sem dúvida, um saber particular será então gerado.
Da mesma forma, questões mais amplas que concernem ao ambiente alfabetizador na
creche têm gerado polêmicas a respeito do que vem a ser a construço desse
ambiente, onde as crianças possam colocar suas produçes (desenhos, textos, bilhetes
etc.) e inteirar-se das várias formas de expressão gráfica do adulto e de outras
afianças.
Essas e outras situações permitem ao adulto pensar, questionar, encontrar o seu jeito
de lidar com as crianças e, portanto, construir o seu saber, modificando a sua prática
pedagógica sempre percorrendo um longo caminho. Nessa caminhada, as dificuldades
aparecem das mais variadas formas, desde dúvidas sobre o que é certo ou errado, até
a realização de uma atividade de contar histórias. O que contar? Como? Para quê?
A nossa intenção, nesse trabalho, não é dizer o que é certo ou errado, mas fazer com
que os educadores enfrentem os obstáculos, procurando resolvê-los de forma que
compreendam o porquê e o para quê de cada ação, ampliem os seus conhecimentos e
tomem consciência do seu trabalho também como um ato político.
No sentido de fazer o educador de creche perceber a amplitude do seu trabalho, de
forma integrada, onde o eixo que permeia as várias atividades desenvolvidas na
Creche/Pré-Escola é o educativo, propomo-nos realizar um treinamento no qual, em
um primeiro momento, exista uma interação educador-educador e
educador-bairro-comunidade. Conhecer a natureza do trabalho, a importância de cada
profissional e as implicações de suas atividades para a Creche/Pré-Escola como um
todo é também objetivo desse treinamento. Para que isto aconteça, nos utilizamos de
alguns recursos como exposiçes, vídeo, leitura de textos, dinâmica de grupo e
oficinas que favoreçam a integração entre os educadores e entre eles e os técnicos
envolvidos no treinamento. Relevamos também o conhecimento do espaço físico da
Creche/Pré-Escola, dos materiais a serem utilizados, dos equipamentos disponíveis.
Toda a proposta do Programa Creche/Pré-Escola deve ser por eles conhecida.
Aqui gostaria de destacar a importância que as oficinas vêm tendo nos nossos
treinamentos, onde os educadores relembram, registram suas brincadeiras, músicas
de infância e, numa atividade lúdica, redescobrem as várias possibilidades de
aprender e de se relacionar.
Num segundo momento, é realizado, com estes profissionais, um treinamento
específico por área Neste especifico são discutidos não só os conteúdos de cada área e
algumas técnicas (de saúde e de alimentação), mas também o detalhamento das
funções, as formas de garantira operacionalização do trabalho na prática, a realização
do planejamento e da rotina das atividades.
O treinamento é planejado e realizado pelos Técnicos da Equipe de Creche/Pré-Escola
da Secretaria do Menor, que vêm contanto com a colaboraço de profissionais da área
da Educação e de alguns educadores das Creches/Pré-Escolas que já estão em
funcionamento.
A participação desses outros profissionais tem sido preciosa, porque trazem
experiências de outras instituições. Os educadores de creche trazem no seu relato de
experiências, as possibilidades, as dificuldades, as reflexões da proposta, as possíveis
modificaçes e, assim, favorecem aos treinandos uma compreensão real do que é o
trabalho na creche e não a idealização de tal trabalho.
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No inicio do treinamento é estabelecida uma relação que envolve os educadores entre
si e com o saber. Um dos desafios para a supervisão e para os educadores é a
ampliaço dessa relaço na prática. Apenas o treinamento não garante a formaço do
educador, ele é o inicio de um processo. A atividade de supervisão continua nesse
processo, acompanhando o trabalho da Creche/Pré-Escola, instrumentalizando os
profissionais, intervindo na sua formaço como ponto de apoio e não como ação
fiscalizadora ou controladora.
Esta concepção de supervisão está embalada no pressuposto de que o educador é o
ponto de apoio das crianças na creche. Ele é um forte pilar na constituiço do saber
dessas crianças e irá auxiliá-las a estruturarem as suas relaçes e o seu modo de
estar no mundo. Por exemplo, no prato de uma afiança, de mais ou menos nove
meses, são colocadas duas colheres. Uma para o educador lhe dar a comida e uma
outra para a criança. Nesse momento a criança mexe na comida, suja a mesa, o chão,
a si própria, bate a colher na mesa, no prato, produzindo diferentes sons; joga a colher
no chão e presta atenção no outro tipo de som e no movimento que produziu. Isto
pode levar a criança a repetir esta ação várias vezes. Esta ação não deve ser vista
pelos educadores (principalmente de limpeza) como de bagunça ou produtora de
sujeira, mas como algo que faz parte da aprendizagem.
A intenço de se investir na formaço desse profissional acontece devido a vários
fatores. Aqui enfatizarei aquele que considero o mais importante.
De um modo geral, o adulto está o tempo todo intervindo no processo de
aprendizagem das crianças e não apenas quando interage diretamente com elas.
Portanto, investir na formação do educador é também evidenciar o papel de cada
profissional da creche e a forma como cada um pode intervir mais adequadamente no
processo de desenvolvimento das crianças. Nesta direço não basta o educador gostar
de criança, ele precisa conhecê-la. Conhecer a afiança de zero a seis anos como sujeito
de sua ação, mas que necessita do auxilio do adulto para colaborar nas suas
descobertas, considerando que a Creche/Pré-Escola visa mais do que à guarda, ã
saúde e à alimentação. A sua educação também é algo valorizado por nós.
Para viabilizar esse trabalho, elegemos alguns instrumentos metodológicos que
consideramos mais importantes, tais como observação, troca de informações, registro,
reflexão, avaliação e planejamento.
A observação acontece de forma interacional, ou seja, na ação do adulto com a
criança. No dia-a-dia com a criança, o educador, durante uma atividade, presta
atenção no movimento que ali se dá, seja na sala, no pátio, no parque, no refeitório,
no banheiro ou em outro lugar qualquer. Percebe os fatos de imediato, a forma como
usam o material, os brinquedos e o espaço; como se comunicam e o ritmo de cada
uma. Mas a observação dos fatos por si só não basta, é necessário registrá-los, para
poder refletir e agir sobre eles. Cito um exemplo. Um educador da cozinha (da
Creche/Pré-Escola Tatuapé) observou que todas as vezes em que era servida lasanha
no jantar, muitas crianças não comiam. Conversando com outros educadores, este
fato foi confirmado. Os educadores que lidavam diretamente com as crianças também
passaram a observar e a levantar algumas hipóteses, entre as quais, buscava-se saber
se não comiam apenas lasanha ou se qualquer tipo de macarrão. Fizeram um registro
de observações, discutiram em reunião e constataram que o problema era só com a
lasanha.
Foi então proposta para as afianças uma atividade onde elas pudessem falar por que
não gostavam de lasanha e os educadores concluíram que o motivo era a sua forma.
Depois de muitas discussões sobre forma, cheiro, cor, gosto, temperatura dos
alimentos, foi combinado com as crianças que elas iriam até a cozinha observar como
era feita uma lasanha. Pensou-se o procedimento juntamente com os educadores da
cozinha e a atividade foi realizada de modo
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que as crianças, depois de lavarem as mãos, pentearem e prenderem os cabelos com
uma fralda, puderam ver o cozimento da massa, a preparação do molho e a junção
destes com o presunto e o queijo. Por fim, a lasanha foi ao fomo.
Durante a atividade, os educadores da cozinha explicavam o que preparavam e por
quê, bem como respondiam às perguntas das crianças. A partir daí elas passaram a
aceitar melhor esse alimento, a se interessar por outras atividades ligadas à cozinha e
a descobrir a transformação de outros. Hoje, as crianças já chegam à cozinha e
perguntam: - Como é feito o pão?
Com essas indagações, as afianças provocam e estimulam os educadores a
desenvolverem atividades fundamentais para a construço do seu conhecimento, que
vão ao encontro de seus interesses e que incluem atividades plásticas, reconhecimento
de peso, medida, consistência, leitura das receitas e marcas de alimentos, sons
estimulados pelo preparo, temperatura para o cozimento etc.
Esta dinâmica de observação nos remete para o registro como indicador do tempo, do
lugar, dos hábitos das afianças, do seu progresso de acordo com o seu tempo na
creche, bem como os critérios e limitações da instituiço. O registro possibilita ao
educador a caracterização dos fatos coletivos e individuais.
A troca de informaçes cotidiana entre o educador do período da manhã e o da tarde,
juntamente com a Coordenação Pedagógica e com a pessoa que traz a criança,
também faz parte da rotina da Creche/Pré-Escola, contribuindo para a integração das
áreas.
As informaçes coletadas, além do registro escrito no caderno de informaçes, são
passadas verbalmente nos módulos, quinze minutos antes da troca de educadores',
portanto no horário de descanso das afianças. Isso pode ocorrer também por bilhetes,
deixados na lousa.
O caderno citado é, a priori, um instrumento de troca de informações, passando num
segundo momento, a instrumento de reflexão, a documento da Creche/Pré-Escola
para uma avaliação do trabalho proposto. A troca de informações é mais que um
encontro de corpos, de informações, é também um encontro de afetos.
O planejamento pedagógico é um outro instrumento que auxilia a dinâmica do
trabalho, a utilização dos materiais, a participação das famílias nas reuniões e na
rotina da creche. Por entendermos que o planejamento não é algo estático, fechado e
anual, ele deve fazer parte da rotina dos educadores de forma a facilitar a organizaço
das atividades, que vá ao encontro dos interesses das crianças e que contribua para a
integração das áreas do conhecimento. É preciso dizer que a avaliação e a reflexão
apontam o (re)planejamento.
Na Creche/Pré-Escola, nós trabalhamos, basicamente, com três tipos de
planejamento: pedagógico, saúde e alimentação.
No planejamento pedagógico,
os educadores, junto com a Coordenaço Pedagógica,
levantam um eixo central que irá orientar o trabalho com as crianças. No período de
implantação da Creche/Pré-Escola, por exemplo, o eixo norteador é a criação de um
vínculo criança-creche-família. Considerando que tanto os educadores como as
crianças estão em adaptação, esse eixo passa a ser o ponto de partida para o trabalho.
Proposto o eixo, os educadores de cada módulo irão planejar atividades que
possibilitem às crianças se conhecerem, se expressarem, explorarem o seu espaço, os
brinquedos, conhecerem
' Esse espaço de troca foi incluído na rotina da creche por necessidade e reivindicaço dos
próprios educadores.
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os adultos, visitarem eventuais irmãos e os amigos dos outros módulos. Tudo isso
produz um vínculo com o grupo e com os educadores, permitindo a identificaço do
módulo* de permanência, o seu escaninho e, assim, estruturando a rotina do grupo e
conhecendo a da creche. Por aí se dá também a construção da identidade grupai. O
planejamento inicial deve orientar para a prática justamente no momento em que o
educador necessita organizar-se e organizar o tempo, o espaço, os materiais, o
conteúdo, a produção das crianças, de forma que favoreçam a sua aprendizagem e a
das crianças.
Esse planejamento vai exigir do educador um certo investimento, uma descoberta do
seu grupo para propor atividades compatíveis com a faixa etária. E isto ele vai
aprender no dia-a-dia com as afianças, respeitando o ritmo de cada uma,
principalmente nos berçários onde a rotina é mais individualizada. Por exemplo, cada
criança vai engatinhar, andar, começar a comer sozinha num momento diferente. No
horário de repouso, por exemplo, algumas crianças dos grupos dos maiores vão
preferir brincar, ouvir histórias, enquanto outras preferirão dormir. O importante é
que cada uma descanse como lhe for mais confortável.
Nessa interaço com o grupo, com os instrumentos metodológicos, material e espaço,
os educadores poderão desenvolver atividades que permitam às crianças adquirirem
conhecimentos de várias áreas, de forma que o produto de uma atividade seja o início
de outro processo e também tenham um espaço para o brincar por brincar, ficarem
sozinhas consigo mesmas. O fundamental é que, elaborando o planejamento,. o
educador avalie e reflita a respeito do seu trabalho onde se incluem todos os
participantes do grupo.
O Planejamento de Saúde
As crianças, por estarem em processo de desenvolvimento ou em fase de crescimento,
são mais vulneráveis às agressões do meio ambiente. Por isto a saúde na
Creche/Pré-Escola está mais voltada para o equilíbrio dinâmico entre as pessoas e o
seu meio ambiente, logo, o bem-estar da criança.
Promover o bem-estar da criança implica alguns cuidados diretos: alimentaço,
higiene corporal, atividades pedagógicas, recreaço e repouso, observação e
acompanhamento do desenvolvimento das crianças de um modo geral. Alguns
cuidados indiretos são também considerados. Trata-se de planejamento e reflexão
quanto à manutenção da higiene do espaço físico, materiais, brinquedos adequados
para cada faixa etária, ventilaço, iluminaço, segurança, espaço adequado para o
número de crianças atendidas; seleço e formaço do profissional de saúde
especializado para o atendimento das afianças (zero a seis anos), controle de saúde e
higiene desses profissionais (D. G. MARANHÃO - 1988).
Assim sendo, estas atividades também são refletidas, avaliadas e planejadas com base
no eixo educativo.
O Planejamento de Alimentaço
Por considerarmos que o comer também pode ser uma atividade educativa como outra
qualquer, ele deve ser também planejado e merece reflexão. Prestar atenção à nutrição
da criança e privilegiar o tipo de alimentaço mais adequado para suprir suas
necessidades, cuidar do desmame, estimular a descoberta dos sabores e das
consistências, da apresentação visual dos pratos e mesmo o prazer de se alimentar.
* Cada módulo é identificado por uma cor, por exemplo, o módulo amarelo é de afianças de 2 a
3 anos, com capacidade para atender vinte afianças. Já nos berçários são atendidas quinze
crianças, por módulo.
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Para planejar a alimentaço das crianças na Creche/Pré-Escola e a programaço de
um cardápio mensal, foram considerados:
o fornecimento de nutrientes necessários ao crescimento e desenvolvimento das
crianças;
o tempo de permanência das crianças na Creche/Pré-Escola (doze horas); a o
número de refeições diárias;
a oferta de alguns alimentos naturais em relaço aos industrializados;
a racionalização dos serviços de cozinha e lactário e os seus equipamentos;
a utilização dos alimentos como contribuiço no processo educativo (D. F.
PRANZETTI 1988).
Foram considerados também o horário e o local das refeições, favorecendo a interação
com os educadores da cozinha, o espaço necessário para as crianças participarem de
atividades, preparando algo. Neste planejamento foram levantados alguns pontos
acerca da relaço alimento-educaço:
o transformaço do alimenta, o diversificação dos sabores, alteraço de temperatura
etc.; 9 sensação de fome e saciedade, sensação de prazer (função do comer); o relação
animal-alimento e planta-alimento (D.F. PRANZETTI -1988).
Em reuniões sucessivas (Equipe de Supervisores do Programa Creche/Pré-Escola,
Supervisores/Equipe de Coordenaço da Creche, Equipe de Coordenaço/Educadores
e Educadores/Educadores), são discutidas e avaliadas as atividades realizadas na
Creché/Pré-Escola e, eventualmente, reelaboradas  neste processo. A exemplo disso,
termino essa reflexão, relatando mais um exemplo:
Numa reunião de Direção (da Creche/Pré-Escola Carão) com os educadores da
limpeza onde estava sendo avaliado o trabalho desta equipe, foi levantada a questão
de como as crianças estavam entendendo o cuidado com a creche. Os educadores
acabavam de limpar o pátio e as salas; as crianças sujavam, levavam areia para a sala
e os banheiros não estavam sendo conservados limpos. Foi sugerido por esta equipe
que se fizesse um trabalho com as crianças a respeito do cuidado com a creche, com
as suas coisas, com a sua pessoa Na reunião da Coordenaço Pedagógica com os
educadores que lidam diretamente com as crianças, esta questão também apareceu
muito forte. Foi proposto então o planejamento de uma atividade onde as crianças
pudessem discutir esta questão e participar de uma atividade de limpeza. A atividade
foi denominada "Mutirão da Limpeza" e aconteceu com os educadores sobre o material
ali utilizado, a importância do cuidado para com a creche, as plantas, as suas coisas,
e o próprio corpo (hábitos de higiene).
As crianças quiseram participar da limpeza e, segundo os educadores, "foi o dia em
que a creche ficou mais suja, porque as crianças mais brincaram do que limparam".
No entanto, entenderem a proposta e resolveram cuidar melhor do jardim,
estimulando os educadores a planejarem e realizarem uma outra atividade coletiva
Nesta atividade que as crianças chamaram de "Mutirão do Verde", cada módulo
plantou uma árvore e os bebés foram convidados para assistir. Este trabalho não
terminou aí, foi o inicio da organização de uma horta que está em plena produção.
Espero que, com este breve relato, possamos levantar algumas questões que
contribuam para pensarmos a formação dos Educadores de Creche/Pré-Escola, no
sentido de auxiliá-los a desenvolver os seus recursos, numa ação de montar,
desmontar e remontar os seus "quebra-cabeças", continuadamente repropostos...
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BIBLIOGRAFIA
CHAUÍ, Marilena. Ideologia e Educação. In: Educação & Sociedade. São Paulo, Cortez,
1980.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Petrópolis - Rio de Janeiro, Vozes, 1977.
conhecer o
FREIRE, Madalena. Paixão de
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LIMA, Elvira C. Souza. O Jogo e a Criança. In: IDÉIAS, n° 2, São Paulo, FDE, 1988.
. Conhecendo a criança pequena. São Paulo, 1988. Texto mimeo.
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PRANZETTI, Dirce Maria F. Diretrizes pedagógicas de
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São Paulo, Martins Fontes, 1984.
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