Profª Maria Noemi de Araújo* |
Aspectos Práticos e Teóricos da |
Formaço do Educador de Creche/Pré-Escola |
...O quebra-cabeça é um jogo que contém peças de diferentes tamanhos e formas. |
Cada uma delas tem uma função, uma razão de existir. É fundamental para a |
finalização do jogo que cada qual seja colocada no seu lugar. O jogo pode se tornar |
concomitantemente difícil e prazeroso, envolve regras, limites, tempo, confronto, ação, |
reflexão, desejo de jogar e prazer de vivenciar, experimentar, conhecer novas formas de |
se montar o quebra-cabeça. |
Se tomarmos o modelo do quebra-cabeça para pensar a formação do educador, |
poderemos afirmar que nesse processo tal quebra-cabeça jamais se completa, mas |
implica um continuo movimento de ensinar-aprendendo e aprender-ensinando. |
Por formaço, estamos entendendo o processo de construço e promoço do |
conhecimento enquanto um sistema, retido pelo educador. E por educador, alguém |
que organiza, constrói e transmite tais conhecimentos, atuando junto com a criança |
no prazer da descoberta, cultivando O espírito da pesquisa e o desejo de conhecer o |
mundo. Conhecer é entrar em contato com o objeto do conhecimento e não apenas a |
obtenção de informações e o domínio de técnicas a respeito deste. Assim, educar é |
colocar em contato com e não apenas falar sobre. |
Ao educador não cabe dizer "faça |
como eu", mas "faça comigo", estimulando o diálogo do educando com o seu próprio |
pensamento e com sua própria cultura (M. CHAUÍ - 1980, p. 39). Vale dizer que este é |
o pressuposto básico do ato de educar e que será através dele que o presente trabalho |
se desenvolverá |
* Pedagoga da Equipe da Creche da Secretaria do Menor e Profª da Universidade |
Paulista. |
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A construço do conhecimento não é algo que acontece de maneira mágica e |
mecânica. É um processo, um acontecer-acontecendo, uma interaço; interaço |
educador-criança, educada-educador, educador-mundo Trata-se justamente de |
encontros de saberes como ponto de partida na perspectiva da construção de uma |
pedagogia que, ao ser construída pelo educador, possa ser (re)construída pelo |
educando. |
Tal modo de produço pedagógica implica, entre outras coisas, a leitura dos interesses |
do grupo, na proposta de novos desafios, no conhecimento do que é a criança, no |
construir-se educador cotidianamente. Isto nos remete para a educação enquanto |
uma pluralidade de práticas dinâmicas e ações coletivas, o que permite tanto ao |
educador como ao educando conhecerem os vários aspectos de suas realidades, bem |
como de outras, e a se reconhecerem em suas próprias produçes. |
Ora, só é possível ocorrer tudo isso no tecer das maçes sociais, o que inclui |
montagens teóricas procedentes de todas as áreas do conhecimento humano e não |
apenas da Pedagogia. Assim, a Sociologia, a Filosofia, a Antropologia, a Física, a |
Química, as Artes, apenas para citar algumas, contribuem para o enriquecimento da |
experiência prática e reflexiva realizada no |
nossa |
dia-a-dia com a afiança. De outra |
parte, sabemos que essa criança possui um contexto familiar e comunitário que inclui |
valores sociais e culturais. Tudo isso deve ser levado em conta. |
A partir dessas considerações, é que a equipe de Creche/Pré-Escola da Secretaria do |
Menor resolveu ocupar esse espaço, investindo nesse desafio que se propôs, |
estruturando e implantando um programa que concebe a creche como um espaço |
educativo e sobre o qual me proponho, neste momento, a refletir. |
PROPOSTA DE CRECHE COMO UM ESPAÇO EDUCATIVO |
A necessidade de se formar o educador de creche está ligada à proposta educativa do |
trabalho desenvolvido na Creche/Pré-Escola, que concebe a criança como um sujeito |
de sua ação, um cidadão que tem direito ao saber e a aprender outras coisas que o |
adulto já sabe. |
A intenção de propor e realizar um trabalho educativo na Creche/Pré-Escola advém do |
fato de que ali existe um espaço para a intervenção educativa/pedagógica que, |
historicamente, assumiu um cunho assistencialista. Contrariamente, o objetivo deste |
Programa é garantir o processo de construção de uma prática comprometida com a |
criança, levando em consideração os interesses e necessidades de cada faixa etária. |
Este processo, a meu ver, não compactua com a educação tradicional, onde esta |
impõe ao sujeito obrigaçes, limitações, proibiçes e disciplina o seu corpo à sujeiço, |
com base na noço de docilidade. "É 'dócil' um corpo que pode ser submetido, que |
pode ser utilizado, que pode ser transformado e aperfeiçoado" (M. FOUCAULT - 1977, |
p. 126). |
O Programa Creche/Pré-Escola da Secretaria do Menor do Estado de São Paulo está |
voltado para o atendimento de crianças de zero a seis anos, no sentido de lhes oferecer |
as melhores condições para que possam aprender a partir das relações que |
estabelecem com os educadores, com os objetos e com o espaço físico da |
Creche/Pré-Escola. |
Creio ser de interesse frisar aqui que essa proposta considera que as crianças iniciam |
seus processos de aprendizagem desde seu primeiro contato com o mundo e, portanto, |
a educação formal é entendida como uma variação educativa e não enquanto um |
ponto de partida. |
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Os vários segmentos profissionais da Creche/Pré-Escola devem oferecer às crianças |
um espaço de aprendizagem onde elas possam se movimentar, manipular, cheirar e |
visualizar os objetos; possam explorar o ambiente, interagir com as outras crianças e |
com os adultos; possam também ficar sozinhas e brincar. |
Aqui é importante sublinhar que o brincar não tem s6 uma função lúdica, mas |
também educativa Brincando, as crianças podem vivenciar experiências, registrar |
várias informações (como, por exemplo, sons, cores, formas etc.), experimentar |
sensaçes e sentimentos (A. V. RODRIGUES - 1988), construindo desse modo suas |
representações e apropriando-se da realidade. Ao construírem representações, as |
crianças começam a registrar, pensar e fazer uma leitura do mundo (M. FREIRE |
-1982). Intencionalmente, a proposta orienta o trabalho com as afianças nessa |
direço. |
Parte-se do principio de que as afianças, às vezes, precisam ser estimuladas tanto |
para se expressarem - o que implica auxiliá-las no desenvolvimento de suas |
linguagens oral, corporal, gráfica etc. - como para interagirem com os objetos que as |
rodeiam. Não menos importante é fazê-las notar cromo esses objetos e essas |
linguagens vão-se transformando continuamente com o trabalho do homem e para o |
homem. |
Talvez seja interessante exemplificar aqui formas usadas pelos educadores com esse |
objetivo: |
o estimulação de narrativas e leituras de livros de lendas, contos de fada, textos etc.; a |
vivência de experiências com a escrita que permeia o cotidiano das crianças (placas, |
bilhetes, logotipos, cartas etc.); a facilitação no manuseio de revistas, jornais, livros |
etc.; o utilização de tintas e materiais do gênero; o realização de jogos e experiências |
cientificas; o contato com a música, a pintura etc. |
Tudo isso facilita às crianças, num outro momento, o entendimento de conceitos de |
Geografia, Ciências, Matemática, Língua Portuguesa. Comunicaço e Expressão e |
Artes (E. S. LIMA 1988). |
Sem dúvida, para que esta creche seja, efetivamente, um espaço educativo, é |
imprescindível que se defina uma proposta de trabalho e que se possa contar com |
alguns recursos. Estes são de ordem física, material, financeira e humana. Falarei, |
então, de alguns aspectos dos recursos humanos considerados fundamentais para |
que tal proposta se sustente, apesar de sabermos que eles não se mantém |
isoladamente. |
RECURSOS HUMANOS/FORMAÇÃO DO EDUCADOR |
"O trabalho é dif ícil, mas é gostoso. As |
aprendem e |
aprendo |
crianças são curiosas, |
eu |
muito com elas". (JOSEFA V. DOS SANTOS - Educadora da limpeza -Creche/Pré-Escola |
Carrão) |
A nossa experiência na formaço do educador de creche demanda esforço, tolerância e gosto |
pelo trabalho, pois nos deparamos com situaçes, hábitos, modos de vida diferentes. Por |
exemplo, o tratamento do "piolho", que a principio pode nos parecer uma coisa simples, não o é |
quando temos que enfrentar o fato. A forma de se lidar com esta situaço, tão corriqueira nas |
creches, esbarra em valores sociais e culturais, hábitos de higiene e trocas de afetos. O que |
quero destacar aqui é que, neste momento, o "piolho" foge do âmbito da área de saúde já que |
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tem implicações pedagógicas, culturais e sociais. Notem-se as polêmicas e conflitos |
para resoluço de um problema dessa ordem. E não pretendemos que seja da noite |
para o dia que as pessoas ali envolvidas encontrem soluçes adequadas para cada |
situação dessa É preciso tempo e, sem dúvida, um saber particular será então gerado. |
Da mesma forma, questões mais amplas que concernem ao ambiente alfabetizador na |
creche têm gerado polêmicas a respeito do que vem a ser a construço desse |
ambiente, onde as crianças possam colocar suas produçes (desenhos, textos, bilhetes |
etc.) e inteirar-se das várias formas de expressão gráfica do adulto e de outras |
afianças. |
Essas e outras situações permitem ao adulto pensar, questionar, encontrar o seu jeito |
de lidar com as crianças e, portanto, construir o seu saber, modificando a sua prática |
pedagógica sempre percorrendo um longo caminho. Nessa caminhada, as dificuldades |
aparecem das mais variadas formas, desde dúvidas sobre o que é certo ou errado, até |
a realização de uma atividade de contar histórias. O que contar? Como? Para quê? |
A nossa intenção, nesse trabalho, não é dizer o que é certo ou errado, mas fazer com |
que os educadores enfrentem os obstáculos, procurando resolvê-los de forma que |
compreendam o porquê e o para quê de cada ação, ampliem os seus conhecimentos e |
tomem consciência do seu trabalho também como um ato político. |
No sentido de fazer o educador de creche perceber a amplitude do seu trabalho, de |
forma integrada, onde o eixo que permeia as várias atividades desenvolvidas na |
Creche/Pré-Escola é o educativo, propomo-nos realizar um treinamento no qual, em |
um primeiro momento, exista uma interação educador-educador e |
educador-bairro-comunidade. Conhecer a natureza do trabalho, a importância de cada |
profissional e as implicações de suas atividades para a Creche/Pré-Escola como um |
todo é também objetivo desse treinamento. Para que isto aconteça, nos utilizamos de |
alguns recursos como exposiçes, vídeo, leitura de textos, dinâmica de grupo e |
oficinas que favoreçam a integração entre os educadores e entre eles e os técnicos |
envolvidos no treinamento. Relevamos também o conhecimento do espaço físico da |
Creche/Pré-Escola, dos materiais a serem utilizados, dos equipamentos disponíveis. |
Toda a proposta do Programa Creche/Pré-Escola deve ser por eles conhecida. |
Aqui gostaria de destacar a importância que as oficinas vêm tendo nos nossos |
treinamentos, onde os educadores relembram, registram suas brincadeiras, músicas |
de infância e, numa atividade lúdica, redescobrem as várias possibilidades de |
aprender e de se relacionar. |
Num segundo momento, é realizado, com estes profissionais, um treinamento |
específico por área Neste especifico são discutidos não só os conteúdos de cada área e |
algumas técnicas (de saúde e de alimentação), mas também o detalhamento das |
funções, as formas de garantira operacionalização do trabalho na prática, a realização |
do planejamento e da rotina das atividades. |
O treinamento é planejado e realizado pelos Técnicos da Equipe de Creche/Pré-Escola |
da Secretaria do Menor, que vêm contanto com a colaboraço de profissionais da área |
da Educação e de alguns educadores das Creches/Pré-Escolas que já estão em |
funcionamento. |
A participação desses outros profissionais tem sido preciosa, porque trazem |
experiências de outras instituições. Os educadores de creche trazem no seu relato de |
experiências, as possibilidades, as dificuldades, as reflexões da proposta, as possíveis |
modificaçes e, assim, favorecem aos treinandos uma compreensão real do que é o |
trabalho na creche e não a idealização de tal trabalho. |
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No inicio do treinamento é estabelecida uma relação que envolve os educadores entre |
si e com o saber. Um dos desafios para a supervisão e para os educadores é a |
ampliaço dessa relaço na prática. Apenas o treinamento não garante a formaço do |
educador, ele é o inicio de um processo. A atividade de supervisão continua nesse |
processo, acompanhando o trabalho da Creche/Pré-Escola, instrumentalizando os |
profissionais, intervindo na sua formaço como ponto de apoio e não como ação |
fiscalizadora ou controladora. |
Esta concepção de supervisão está embalada no pressuposto de que o educador é o |
ponto de apoio das crianças na creche. Ele é um forte pilar na constituiço do saber |
dessas crianças e irá auxiliá-las a estruturarem as suas relaçes e o seu modo de |
estar no mundo. Por exemplo, no prato de uma afiança, de mais ou menos nove |
meses, são colocadas duas colheres. Uma para o educador lhe dar a comida e uma |
outra para a criança. Nesse momento a criança mexe na comida, suja a mesa, o chão, |
a si própria, bate a colher na mesa, no prato, produzindo diferentes sons; joga a colher |
no chão e presta atenção no outro tipo de som e no movimento que produziu. Isto |
pode levar a criança a repetir esta ação várias vezes. Esta ação não deve ser vista |
pelos educadores (principalmente de limpeza) como de bagunça ou produtora de |
sujeira, mas como algo que faz parte da aprendizagem. |
A intenço de se investir na formaço desse profissional acontece devido a vários |
fatores. Aqui enfatizarei aquele que considero o mais importante. |
De um modo geral, o adulto está o tempo todo intervindo no processo de |
aprendizagem das crianças e não apenas quando interage diretamente com elas. |
Portanto, investir na formação do educador é também evidenciar o papel de cada |
profissional da creche e a forma como cada um pode intervir mais adequadamente no |
processo de desenvolvimento das crianças. Nesta direço não basta o educador gostar |
de criança, ele precisa conhecê-la. Conhecer a afiança de zero a seis anos como sujeito |
de sua ação, mas que necessita do auxilio do adulto para colaborar nas suas |
descobertas, considerando que a Creche/Pré-Escola visa mais do que à guarda, ã |
saúde e à alimentação. A sua educação também é algo valorizado por nós. |
Para viabilizar esse trabalho, elegemos alguns instrumentos metodológicos que |
consideramos mais importantes, tais como observação, troca de informações, registro, |
reflexão, avaliação e planejamento. |
A observação acontece de forma interacional, ou seja, na ação do adulto com a |
criança. No dia-a-dia com a criança, o educador, durante uma atividade, presta |
atenção no movimento que ali se dá, seja na sala, no pátio, no parque, no refeitório, |
no banheiro ou em outro lugar qualquer. Percebe os fatos de imediato, a forma como |
usam o material, os brinquedos e o espaço; como se comunicam e o ritmo de cada |
uma. Mas a observação dos fatos por si só não basta, é necessário registrá-los, para |
poder refletir e agir sobre eles. Cito um exemplo. Um educador da cozinha (da |
Creche/Pré-Escola Tatuapé) observou que todas as vezes em que era servida lasanha |
no jantar, muitas crianças não comiam. Conversando com outros educadores, este |
fato foi confirmado. Os educadores que lidavam diretamente com as crianças também |
passaram a observar e a levantar algumas hipóteses, entre as quais, buscava-se saber |
se não comiam apenas lasanha ou se qualquer tipo de macarrão. Fizeram um registro |
de observações, discutiram em reunião e constataram que o problema era só com a |
lasanha. |
Foi então proposta para as afianças uma atividade onde elas pudessem falar por que |
não gostavam de lasanha e os educadores concluíram que o motivo era a sua forma. |
Depois de muitas discussões sobre forma, cheiro, cor, gosto, temperatura dos |
alimentos, foi combinado com as crianças que elas iriam até a cozinha observar como |
era feita uma lasanha. Pensou-se o procedimento juntamente com os educadores da |
cozinha e a atividade foi realizada de modo |
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que as crianças, depois de lavarem as mãos, pentearem e prenderem os cabelos com |
uma fralda, puderam ver o cozimento da massa, a preparação do molho e a junção |
destes com o presunto e o queijo. Por fim, a lasanha foi ao fomo. |
Durante a atividade, os educadores da cozinha explicavam o que preparavam e por |
quê, bem como respondiam às perguntas das crianças. A partir daí elas passaram a |
aceitar melhor esse alimento, a se interessar por outras atividades ligadas à cozinha e |
a descobrir a transformação de outros. Hoje, as crianças já chegam à cozinha e |
perguntam: - Como é feito o pão? |
Com essas indagações, as afianças provocam e estimulam os educadores a |
desenvolverem atividades fundamentais para a construço do seu conhecimento, que |
vão ao encontro de seus interesses e que incluem atividades plásticas, reconhecimento |
de peso, medida, consistência, leitura das receitas e marcas de alimentos, sons |
estimulados pelo preparo, temperatura para o cozimento etc. |
Esta dinâmica de observação nos remete para o registro como indicador do tempo, do |
lugar, dos hábitos das afianças, do seu progresso de acordo com o seu tempo na |
creche, bem como os critérios e limitações da instituiço. O registro possibilita ao |
educador a caracterização dos fatos coletivos e individuais. |
A troca de informaçes cotidiana entre o educador do período da manhã e o da tarde, |
juntamente com a Coordenação Pedagógica e com a pessoa que traz a criança, |
também faz parte da rotina da Creche/Pré-Escola, contribuindo para a integração das |
áreas. |
As informaçes coletadas, além do registro escrito no caderno de informaçes, são |
passadas verbalmente nos módulos, quinze minutos antes da troca de educadores', |
portanto no horário de descanso das afianças. Isso pode ocorrer também por bilhetes, |
deixados na lousa. |
O caderno citado é, a priori, um instrumento de troca de informações, passando num |
segundo momento, a instrumento de reflexão, a documento da Creche/Pré-Escola |
para uma avaliação do trabalho proposto. A troca de informações é mais que um |
encontro de corpos, de informações, é também um encontro de afetos. |
O planejamento pedagógico é um outro instrumento que auxilia a dinâmica do |
trabalho, a utilização dos materiais, a participação das famílias nas reuniões e na |
rotina da creche. Por entendermos que o planejamento não é algo estático, fechado e |
anual, ele deve fazer parte da rotina dos educadores de forma a facilitar a organizaço |
das atividades, que vá ao encontro dos interesses das crianças e que contribua para a |
integração das áreas do conhecimento. É preciso dizer que a avaliação e a reflexão |
apontam o (re)planejamento. |
Na Creche/Pré-Escola, nós trabalhamos, basicamente, com três tipos de |
planejamento: pedagógico, saúde e alimentação. |
No planejamento pedagógico, |
os educadores, junto com a Coordenaço Pedagógica, |
levantam um eixo central que irá orientar o trabalho com as crianças. No período de |
implantação da Creche/Pré-Escola, por exemplo, o eixo norteador é a criação de um |
vínculo criança-creche-família. Considerando que tanto os educadores como as |
crianças estão em adaptação, esse eixo passa a ser o ponto de partida para o trabalho. |
Proposto o eixo, os educadores de cada módulo irão planejar atividades que |
possibilitem às crianças se conhecerem, se expressarem, explorarem o seu espaço, os |
brinquedos, conhecerem |
' Esse espaço de troca foi incluído na rotina da creche por necessidade e reivindicaço dos |
próprios educadores. |
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os adultos, visitarem eventuais irmãos e os amigos dos outros módulos. Tudo isso |
produz um vínculo com o grupo e com os educadores, permitindo a identificaço do |
módulo* de permanência, o seu escaninho e, assim, estruturando a rotina do grupo e |
conhecendo a da creche. Por aí se dá também a construção da identidade grupai. O |
planejamento inicial deve orientar para a prática justamente no momento em que o |
educador necessita organizar-se e organizar o tempo, o espaço, os materiais, o |
conteúdo, a produção das crianças, de forma que favoreçam a sua aprendizagem e a |
das crianças. |
Esse planejamento vai exigir do educador um certo investimento, uma descoberta do |
seu grupo para propor atividades compatíveis com a faixa etária. E isto ele vai |
aprender no dia-a-dia com as afianças, respeitando o ritmo de cada uma, |
principalmente nos berçários onde a rotina é mais individualizada. Por exemplo, cada |
criança vai engatinhar, andar, começar a comer sozinha num momento diferente. No |
horário de repouso, por exemplo, algumas crianças dos grupos dos maiores vão |
preferir brincar, ouvir histórias, enquanto outras preferirão dormir. O importante é |
que cada uma descanse como lhe for mais confortável. |
Nessa interaço com o grupo, com os instrumentos metodológicos, material e espaço, |
os educadores poderão desenvolver atividades que permitam às crianças adquirirem |
conhecimentos de várias áreas, de forma que o produto de uma atividade seja o início |
de outro processo e também tenham um espaço para o brincar por brincar, ficarem |
sozinhas consigo mesmas. O fundamental é que, elaborando o planejamento,. o |
educador avalie e reflita a respeito do seu trabalho onde se incluem todos os |
participantes do grupo. |
O Planejamento de Saúde |
As crianças, por estarem em processo de desenvolvimento ou em fase de crescimento, |
são mais vulneráveis às agressões do meio ambiente. Por isto a saúde na |
Creche/Pré-Escola está mais voltada para o equilíbrio dinâmico entre as pessoas e o |
seu meio ambiente, logo, o bem-estar da criança. |
Promover o bem-estar da criança implica alguns cuidados diretos: alimentaço, |
higiene corporal, atividades pedagógicas, recreaço e repouso, observação e |
acompanhamento do desenvolvimento das crianças de um modo geral. Alguns |
cuidados indiretos são também considerados. Trata-se de planejamento e reflexão |
quanto à manutenção da higiene do espaço físico, materiais, brinquedos adequados |
para cada faixa etária, ventilaço, iluminaço, segurança, espaço adequado para o |
número de crianças atendidas; seleço e formaço do profissional de saúde |
especializado para o atendimento das afianças (zero a seis anos), controle de saúde e |
higiene desses profissionais (D. G. MARANHÃO - 1988). |
Assim sendo, estas atividades também são refletidas, avaliadas e planejadas com base |
no eixo educativo. |
O Planejamento de Alimentaço |
Por considerarmos que o comer também pode ser uma atividade educativa como outra |
qualquer, ele deve ser também planejado e merece reflexão. Prestar atenção à nutrição |
da criança e privilegiar o tipo de alimentaço mais adequado para suprir suas |
necessidades, cuidar do desmame, estimular a descoberta dos sabores e das |
consistências, da apresentação visual dos pratos e mesmo o prazer de se alimentar. |
* Cada módulo é identificado por uma cor, por exemplo, o módulo amarelo é de afianças de 2 a |
3 anos, com capacidade para atender vinte afianças. Já nos berçários são atendidas quinze |
crianças, por módulo. |
31 |
Para planejar a alimentaço das crianças na Creche/Pré-Escola e a programaço de |
um cardápio mensal, foram considerados: |
• |
o fornecimento de nutrientes necessários ao crescimento e desenvolvimento das |
crianças; |
• |
o tempo de permanência das crianças na Creche/Pré-Escola (doze horas); a o |
número de refeições diárias; |
• |
a oferta de alguns alimentos naturais em relaço aos industrializados; |
• |
a racionalização dos serviços de cozinha e lactário e os seus equipamentos; |
• |
a utilização dos alimentos como contribuiço no processo educativo (D. F. |
PRANZETTI 1988). |
• |
Foram considerados também o horário e o local das refeições, favorecendo a interação |
com os educadores da cozinha, o espaço necessário para as crianças participarem de |
atividades, preparando algo. Neste planejamento foram levantados alguns pontos |
acerca da relaço alimento-educaço: |
o transformaço do alimenta, o diversificação dos sabores, alteraço de temperatura |
etc.; 9 sensação de fome e saciedade, sensação de prazer (função do comer); o relação |
animal-alimento e planta-alimento (D.F. PRANZETTI -1988). |
Em reuniões sucessivas (Equipe de Supervisores do Programa Creche/Pré-Escola, |
Supervisores/Equipe de Coordenaço da Creche, Equipe de Coordenaço/Educadores |
e Educadores/Educadores), são discutidas e avaliadas as atividades realizadas na |
Creché/Pré-Escola e, eventualmente, reelaboradas neste processo. A exemplo disso, |
termino essa reflexão, relatando mais um exemplo: |
Numa reunião de Direção (da Creche/Pré-Escola Carão) com os educadores da |
limpeza onde estava sendo avaliado o trabalho desta equipe, foi levantada a questão |
de como as crianças estavam entendendo o cuidado com a creche. Os educadores |
acabavam de limpar o pátio e as salas; as crianças sujavam, levavam areia para a sala |
e os banheiros não estavam sendo conservados limpos. Foi sugerido por esta equipe |
que se fizesse um trabalho com as crianças a respeito do cuidado com a creche, com |
as suas coisas, com a sua pessoa Na reunião da Coordenaço Pedagógica com os |
educadores que lidam diretamente com as crianças, esta questão também apareceu |
muito forte. Foi proposto então o planejamento de uma atividade onde as crianças |
pudessem discutir esta questão e participar de uma atividade de limpeza. A atividade |
foi denominada "Mutirão da Limpeza" e aconteceu com os educadores sobre o material |
ali utilizado, a importância do cuidado para com a creche, as plantas, as suas coisas, |
e o próprio corpo (hábitos de higiene). |
As crianças quiseram participar da limpeza e, segundo os educadores, "foi o dia em |
que a creche ficou mais suja, porque as crianças mais brincaram do que limparam". |
No entanto, entenderem a proposta e resolveram cuidar melhor do jardim, |
estimulando os educadores a planejarem e realizarem uma outra atividade coletiva |
Nesta atividade que as crianças chamaram de "Mutirão do Verde", cada módulo |
plantou uma árvore e os bebés foram convidados para assistir. Este trabalho não |
terminou aí, foi o inicio da organização de uma horta que está em plena produção. |
Espero que, com este breve relato, possamos levantar algumas questões que |
contribuam para pensarmos a formação dos Educadores de Creche/Pré-Escola, no |
sentido de auxiliá-los a desenvolver os seus recursos, numa ação de montar, |
desmontar e remontar os seus "quebra-cabeças", continuadamente repropostos... |
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BIBLIOGRAFIA |
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