Projeto Gonzagão


Projeto Gonzagão
Resumo

O Projeto Gonzagão foi desenvolvido no Ensino Fundamental (3ª e 4ª séries) pela Escola Municipal de Ensino Fundamental e Médio Miguel
Matias, vinculada aos Parâmetros em Ação, visando resgatar e valorizar nossas tradições, assim como promover a aquisição de conhecimentos sobre a origem, as curiosidades, os cancioneiros, as danças típicas das festas nordestinas e ampliar o vocabulário dos envolvidos.
O trabalho foi direcionado para o desenvolvimento da leitura, da escrita e da produção de texto de maneira interdisciplinar, integrando conhecimentos nas diferentes áreas de ensino, numa visão crítica ao preconceito social e lingüístico que permeia o Nordeste brasileiro.
Com esse acervo cultural, objetiva-se divulgar a arte e o saber do nosso povo, conciliando-o com os trabalhos escolares e envolvendo a comunidade e o poder público nessa realização.

Projeto Gonzagão – Experiência PCN em Ação
Rosemere da Silva Vieira SME – Campo Alegre/AL

Relato da experiência

Com sua sanfona, Luiz Gonzaga descobriu, há décadas, um país diferente, com uma emoção enraizada em seus costumes e em seus modos de vida. Uma paixão que era colocada para fora em forma de música, de versos de pé-quebrado e literatura de cordel. Em suas andanças, Luiz Gonzaga viu o futuro do Brasil em suas entranhas, com paisagens e povos que ainda estavam por ser descobertos.
No Nordeste, as pessoas que sofrem com a estiagem não têm recursos para investir em alta tecnologia e, com isso, enfrentam o fenômeno da emigração, que causa sofrimento e angústia nos que partem e nos que ficam. Junto com eles seguem a insegurança do desconhecido e a esperança de um futuro melhor, como retrata tão bem o cantor e compositor brasileiro Luiz Gonzaga, conhecido como o “Rei do Baião”.
No ápice dessa contextura, essa região sofre com o contínuo preconceito social e lingüístico. Portanto, decidimos explorar esse universo cultural, que divulga tão bem a vida do nordestino, com suas dificuldades, seus sentimentos e seus talentos, que comove todo o território nacional.
Pretendemos, então, proporcionar aos nossos alunos, principalmente aos que não tiveram acesso ao cancioneiro de Luiz Gonzaga, a oportunidade de conhecer, perceber e resgatar o valor cultural que ele representa para o Brasil, promovendo a aquisição de conhecimentos sobre a origem, a linguagem, as curiosidades, as canções e as danças típicas das festas nordestinas, ampliando o vocabulário e associando o aos trabalhos escolares de maneira significativa e prazerosa.
Com esse acervo cultural, objetivamos especificamente:
• explorar a biografia de Luiz Gonzaga e estimular a apreciação de seu cancioneiro;
• entender e respeitar o dialeto regional do sertão;
• discutir problemas sociais do Nordeste;
• estimular a consciência crítica e despertar para a importância de preservar o meio ambiente;
• apreciar textos musicais, analisando-os a partir da aplicação real da gramática e produzir novos textos;
• trabalhar a ortografia inserida nos textos;
• organizar um coral para interpretar os grandes sucessos de Luiz Gonzaga;
• desenvolver um programa de caça-talentos;
• envolver a comunidade e o poder público na realização dos trabalhos.
O projeto foi desenvolvido em etapas sucessivas e obedeceu ao processo descrito a seguir.
Inicialmente, foram detalhados os conhecimentos prévios dos alunos sobre o cantor e compositor Luiz Gonzaga e as questões colocadas por ele sobre os problemas sociais enfrentados pelo nordestino. Os professores concluíram que esse conhecimento se limitava a algumas músicas tocadas no mês de junho. Os alunos sabiam que o cantor e compositor era sertanejo, mas não conheciam a sua história e a sua importância na cultura nordestina. Relataram que, em casa, tinham fitas cassete, mas não gostavam de ouvi-las, porque tinham preferência por outros ritmos, como axé, pagode e reggae, que eram mais tocadas no momento.
Em seguida, foi realizada uma reunião de pais e professores para divulgar o tema do projeto, sua importância e a necessidade da ajuda da família com recortes de jornais, revistas, livros, CDs, vídeo etc.
Após esse contato, os professores selecionaram material informativo como subsídio de pesquisa para os alunos e lançaram as propostas de construção do conhecimento, por meio das atividades solicitadas no decorrer do desenvolvimento do projeto, ou seja, à medida que eram solicitadas informações, os alunos pesquisavam no banco de dados. Alguns textos oferecidos foram retirados dos sites
<http:/www.mpbnet.com.br/musicos/luiz.gonzaga/index.htm> e <http://www.bhnet.com.br/~expaco/oreiluizgonzaga.htm>, que informam toda biografia do cantor e compositor, suas dificuldades e conquistas, até ser consagrado como o “Rei do Baião”.
No site <http://www.tocasite.hpg.com.br/origem.htm>, conseguimos textos sobre a história do forró e a mistura de ritmos, principalmente o baião, aliado ao xote, ao xaxado e também ao coco. No site <http://www.vicepresidenciadarepublica.gov.br. português/
ARTIGOS/luizgonzaga.htm> ofereceram algumas publicações importantes de Marco Maciel, vice-presidente da República, que relata a contribuição das composições de Luiz Gonzaga para a política e a cultura e destaca que foi na composição da música “Asa Branca” que Luiz Gonzaga criou o hino do Nordeste, o Nordeste na sua visão mais significativamente dramática, o Nordeste na aguda crise da seca.
Além desses textos, foi consultada a Enciclopédia Ilustrada do Conhecimento Essencial, 1998, by Reader’s Digest Brasil Ltda.; a revista Nova Escola, p. 34, 35 e 39, de abril de 2001, e dicionários da Língua Portuguesa, na busca do significado de algumas palavras apresentadas. Com as informações adquiridas, organizou-se uma exposição de gravuras, relatos e textos informativos no mural da escola. Partindo dos textos oferecidos, os alunos da 4ª série fizeram uma reescrita individual da biografia de Luiz Gonzaga, que foi transformada em reescrita coletiva. Foram expostos também trabalhos de produção e reescrita de textos sobre a seca no Nordeste, ritmos, danças, entre outros, acervo cultural a que todos que circulavam tinham acesso.
Além das apresentações e da entoação das músicas cantadas e tocadas por ele e por outros intérpretes, também foram apresentados instrumentos musicais utilizados nas diferentes modalidades rítmicas, como forró, baião, xote e xaxado. Os instrumentos apresentados e explorados foram zabumba, sanfona e triângulo, sobre os quais, antecipadamente, se fez pesquisa para saber o significado de suas denominações. Os alunos apreciaram e até mesmo treinaram o toque desses instrumentos.
Durante a exposição dos textos musicais, o trabalho com gramática e ortografia foi efetivado por meio de debates, reescrita e produção de textos. Com a música “Asa branca” e “Triste partida”, os professores mostraram o dialeto regional de Luiz Gonzaga, aproveitando para trabalhar a ortografia e a gramática por meio do texto lacunado. Os alunos, aos poucos, preencheram as lacunas obedecendo às normas ortográficas da linguagem formal.
Com a letra da música “Assum preto”, foram debatidos os crimes contra a flora e a fauna e, nesse momento, as crianças relataram algumas maldades que presenciaram e praticaram. E quanto às que praticaram, prometeram não mais fazê-lo. Após esse trabalho, foi feita a produção de texto sobre a maldade dos homens contra a natureza. Entre as músicas trabalhadas, a que mais comoveu foi “Fogo-apagou”, que conta a história do menino que matou uma rolinha para saciar a sua fome e, assim, prolongar sua própria vida. Isso gerou uma grande discussão. A música considerada de maior interesse pelos alunos foi “O xote das meninas”, pelo ritmo e pela letra, que agradam as crianças e os adolescentes, visto que ela fala da chegada da adolescência e do despertar para o namoro.
Observamos que, durante a exposição das músicas e as discussões sobre as letras, houve sensibilização dos alunos. Eles se mostraram comovidos e solidários com os problemas que a miséria causa ao povo nordestino, quando ouviram, principalmente, a música “Triste partida”, que conta a situação dos emigrantes da região, e quando alguns alunos expuseram a situação de seus pais, que estão em outras regiões, como Mato Grosso, São Paulo e Goiás, trabalhando para o sustento de sua família.
Quanto a essa situação, uma criança disse: “Aqui não tem emprego para todos, estávamos passando fome e meu pai foi arranjar dinheiro em outro lugar”.
Consideramos que houve uma participação ativa dos envolvidos,  inclusive dos alunos que, nessa oportunidade, conheceram o Nordeste, explorando-o de forma interdisciplinar, apresentando uma aprendizagem significativa, que muito contribuiu para crescimento social, cultural e intelectual, questionando fatos e sugerindo alternativas de melhoria na qualidade de vida do povo nordestino.
O Projeto Gonzagão teve sua culminância no dia 22 de junho e, como se tratava também do estudo das tradições especificamente nordestinas, nosso projeto destacou que, além dos problemas que enfrentamos no dia-a-dia, temos também a alegria das festas juninas, com desfile pelas principais ruas da cidade, mostrando em alas a vida de Luiz Gonzaga, que é um exemplo vivo da vida do nordestino.
Os alunos e professores, caracterizados, carregavam faixas e cartazes que, além de contar a história, destacava também os problemas sociais mais graves, como a fome, a sede, a exploração do trabalho braçal, o preconceito e a tristeza da incerteza do amanhã.
Após o desfile, já na escola, pais, professores, alunos e comunidade participaram da festa e apreciaram as danças, os pratos típicos, as vestimentas e os fogos que embelezam e atraem multidões. Realizamos uma grande festa com a participação do sanfoneiro da cidade, que estava caracterizado a rigor.
Ao final do projeto, concluímos que nada seria possível se não houvesse a participação coletiva de diretores, professores, alunos, como também a participação da família, o envolvimento da comunidade e até mesmo de pessoas influentes na cidade, como o prefeito, os vereadores, a secretário de Educação, o gerente do Banco do Brasil e os comerciantes que contribuíram financeiramente e se fizeram presentes no encerramento do projeto.
Consideramos esse projeto como um grande avanço na formação continuada dos professores, que vem mostrando, de forma clara e objetiva, a importância de um trabalho sistemático e coletivo, gerando situações de conhecimento, ao mesmo tempo, reais e diversificadas, e proporcionando, assim, uma aprendizagem ativa, interessante, significativa, real e atraente para os alunos.
Os professores envolvidos no estudo dos PCN em Ação já entendem que ninguém começa a ter iniciativa e autonomia sem ter tido a oportunidade de escolher, opinar, criticar e dizer o que pensa e sente. E o projeto pedagógico oferece o caminho mais curto para o saber, como destaca Dewey, quando diz: “Todo conhecimento verdadeiro deriva de uma necessidade. A humanidade desenvolveu-se tratando de obter conhecimentos que satisfizessem às suas necessidades”.